Comecei a trabalhar aos 7 anos de idade. Entregava pastéis em bares e cantinas de quase todos os colégios da minha cidade. Fiz isso por alguns anos. Quando eu tinha 10 anos meu pai foi chamado à escola pela diretora, que lhe recomendou que eu parasse de trabalhar tanto, se não eu morreria. Eu estava realmente cansado, acordava todos os dias às quatro da manhã para ajudar os meus pais e fazer as entregas. Mas não morri. Continuei trabalhando, e muito.
Com 10 anos comecei a vender picolés. Mas o dono da sorveteria não queria me dar um carrinho de sorvetes, argumentando ser eu muito pequeno. Queria me dar uma caixa de isopor. Insisti com ele por um mês inteiro, até que ele se cansou e me deu o carrinho. Aquilo era para mim a realização de um sonho. No lugar onde eu morava a temperatura era constantemente na casa dos 40 graus. E naquele sol escaldante, seguia eu feliz com meu carrinho de sorveteiro. Fui para a estação ferroviária, pois sabia o horário de um trem que vinha da Bahia e passava por ali.
No primeiro dia de venda, para minha surpresa, esse trem lotado descarrilou a apenas alguns metros da estação. Corri para o local e em minutos vendi todos os picolés. Voltei para a sorveteria correndo, meus pés mal tocavam o chão de tanto que eu corria. Reabasteci e vendi tudo novamente. Fiz isso algumas vezes naquele dia. Fui aclamado na sorveteria. Campeão de vendas no primeiro dia de trabalho.
Óbvio que no dia seguinte não havia outro trem descarrilado. Mas continuei vendendo muito. Minhas aventuras e empreendimentos não pararam por aí. Fui também engraxate, vendedor de doces, boia-fria (colhia laranjas e amendoins). Pegava o caminhão para a roça de madrugada e à noite estudava em uma escola de contabilidade. Eu queria vencer, ganhar dinheiro, realizar meus sonhos, “acontecer”.
Desde cedo eu me deparei com desafios que pareciam não ser para meu tempo. E acabei desenvolvendo uma forte crença na capacidade de produzir apesar das circunstâncias. Um grande prêmio para mim foi aprender, ainda com 10 anos de idade, a colher os frutos da perseverança. Eu tinha obsessão por resultados e corria atrás deles, ignorando os cenários desfavoráveis e aproveitando oportunidades inusitadas para atingir meus objetivos. Não é todo dia que se vê um trem descarrilado, mas diariamente estou diante de oportunidades importantes para a transformação e aperfeiçoamento da minha vida.
Falando em cenários desfavoráveis, me lembro de Dostoievski, um dos principais nomes da literatura russa e da universal. Sua história é fascinante. Sua vida teve muitos desafios. Em 1849, acusado de conspirar contra o Czar Nicolau I, ele foi preso e condenado ao fuzilamento. A poucos minutos da morte, porém, o imperador concedeu perdão aos acusados e mudança da pena para trabalhos forçados e exílio. Na noite de Natal Dostoievski foi levado para a Sibéria arrastando grilhões (correntes de quase 5 quilos presos às suas pernas), além de o fazerem puxar um trenó aberto por quase 20 dias, sob um frio intenso, causando-lhe várias feridas na pele. Ele suportou tudo isto. Sofreu demais. A caminho da Sibéria, uma mulher se aproximou dele com compaixão e lhe entregou um exemplar de um Novo Testamento. Tornou-se então um cristão convicto.
Dostoievski retrata a vida em suas obras. Em seu livro “Os Demônios” foi profético ao dizer claramente 70 anos antes que tanto a Rússia como o restante da Europa se curvariam ante à violência, ignorância e fanatismo, que recairia sobre a Europa um terrível mal. Dito e feito. A tragédia do comunismo veio e mais tarde Hitler, Mussolini e outros, um mergulho na escuridão.
Patrimônio da humanidade, Dostoievski foi um homem cheio de fraquezas e vícios durante boa parte de sua vida. No exílio escreveu: “Ame cada folha, cada raio de luz, ame os animais, as plantas, cada coisa, amando tudo, você perceberá o mistério de Deus em tudo".
A despeito das adversidades e tantos altos e baixos, Dostoievski presenteou a humanidade com obras profundas, verdadeiras joias da literatura, caminhos pavimentados para entender um pouco de nós. Ele não acalentou amarguras, traumas e fantasmas. Certamente os teve, mas persistiu em busca da serenidade.
Em um cenário tão desfavorável, Dostoievski produziu o seu melhor.
A história da minha vida me ensinou muito. Sou grato por tudo que vivi. A gratidão é o único caminho que tenho para enxergar o meu redor, manter-me focado na abundância do que tenho e não na escassez, naquilo que imagino que me faz muita falta não ter; a gratidão é a única forma de espantar fantasmas que podem me tirar do eixo. Minha história reúne experiências maravilhosas e obviamente muitas amargas. Mas meu propósito é produzir mais e mais, cada vez com mais afinco e qualidade, e prosseguir apesar de qualquer circunstância. Eu sou maior do que as circunstâncias.
Sinto-me recompensado pelas Experiências vividas. Que dúvida posso ter da vida? “Tudo é possível para quem acredita e corre atrás!! A Cada dia, um novo desafio, uma nova experiência e uma historia para contar. Acredito ter dado alguns passos importantes na minha caminhada...Tenho mais experiências para compartilhar.
Estou por aqui!!!
Jairo brito