A invasão da Babilônia pelos persas em 539 a.C. foi um acontecimento extraordinário e surpreendente. A encantadora cidade, uma das sete maravilhas do mundo antigo com seus jardins suspensos, tinha posição importante na rota comercial que ligava o golfo Pérsico com o Mediterrâneo.
E bem por isso era uma fortaleza considerável “intransponível”. Suas muralhas tinham mais de 100 metros de altura por 26 de largura. Tomar a Babilônia era algo praticamente impossível. Declarar guerra e atacá-la abertamente era uma opção convencional demais e fadada ao fracasso. Para se ter ideia, os babilônicos tinham provisão para suportarem até 20 anos de cerco, caso fosse necessário. Era, então, preciso outra solução, pensar em outra forma de vencê-la. E os persas pensaram.
Eles fizeram um trabalho sutil e fenomenal: criaram um desvio no curso do rio Eufrates, que banhava a Babilônia, diminuindo seu volume de forma que pudessem atravessá-lo com água pela cintura, sem que os babilônios percebessem. Dessa forma chegaram surpreendentemente na cidade fortificada e a tomaram sem batalha. Enquanto o rei babilônico se divertia em uma festa no palácio, festejando e subestimando seus inimigos, os persas driblavam suas dificuldades para alcançar a vitória.
Batalhas e guerras sempre são vencidas por quem tem a melhor estratégia, mesmo que às vezes isso seja o uso do melhor aparelhamento, da força do braço. Mas nos tempos antigos, o risco de se perder tudo era tão grande, eram momentos de tanta tensão e perigo, que em muitos casos a criatividade era tão valiosa quanto a força. Vemos muitos exemplos disso na história. E assim foi com os persas. Ao desviarem o curso do rio, criando um meio de transpor a barreira, mostraram uma invejável força de superação e perseverança.
Esse episódio me faz pensar em nós. Quantas muralhas temos à nossa frente? Nosso cotidiano, nossa reação frente aos desafios, as vitórias que precisamos alcançar, os dilemas para resolver. Conheço muita gente que sem perceber reclama muito, diante de problemas ou obstáculos, de qualquer dimensão, só consegue esboçar uma reação: reclamar e lamentar. Reclamando, elas se acostumam mal e, num círculo vicioso, não conseguem enxergar solução até mesmo para questões básicas. Muitos vivem presos ao passado, rememorando as glórias e vitórias vividas ou curtindo as marcas dolorosas das desilusões.
Digo tudo isso porque já vivi momentos assim. Às vezes é mais fácil se entregar, postergar, não encarar. Mas esse definitivamente não é melhor caminho. É preciso acreditar, a realidade é que somos capazes de vencer qualquer obstáculo, podemos virar o jogo, fazer acontecer. E isso não é pensamento positivo, é racionalidade, condição humana de superação.
O primeiro passo é acreditar. Platão disse que a primeira das vitórias é conquistar a nós mesmos. Diante de qualquer situação, acredite: há uma solução, uma saída. Em muitos momentos a solução está dentro do problema, bem diante de nós, e não enxergamos. E o nosso trunfo é a criatividade. Tenhamos o hábito de deixá-la nos mover até nas coisas mais simples. Troquemos as reclamações pelo exercício da criatividade. Os persas fizeram isso naquele episódio e milhares de pessoas tomam esse caminho todos os dias. Sabe aquela pessoa admirável que parece vencer tudo? É disso que se trata, correr atrás, criar solução, fazer acontecer, desviar o curso do rio e vencer.
Por Jairo Brito
E viva a Criatividade!
ResponderExcluirReflexão que nos leva à ação. Ótima!
Abraços
Ótimo texto! Serviu como uma luva. Acho que mais que a criatividade e a força de vontade de fazer acontecer!
ResponderExcluirUm abraço